Sobre dons que se atrofiam

 Ontem fomos em uma oficina de artesanato especializada em receber pessoas com necessidades especiais. Embora eu ainda não esteja oficialmente trabalhando, ainda assim faço questão de acompanhar os demais residentes da casa para conhecer a cidade, as pessoas e compreender melhor como será a minha jornada por aqui.

Nós realizarmos as atividades junto os alunos. São vários tipos de trabalho artesanal (pintura, desenho, colagem, bordado). Ontem o trabalho consistiu em fazer desenhos e colagens com folhas de árvores.

A professora me pediu para usar uma folha de molde em um papel e depois recorta-lo para que tivéssemos figuras diferentes. Tarefa simples, claro! Até que eu me dei conta que:

1. Havia muito tempo que eu não manuseava uma tesoura para fins artesanais;

2. Havia muito tempo que eu sequer fazia atividades artesanais;

3. Já não tinha mais a mesma destreza e atenção que já tive um dia.

Me lembro quando era bem mais nova, eu gostava de artesanato espontaneamente. E era algo natural, eu não ficava horas quebrando a cabeça, a criatividade surgia em minha mente e eu apenas executava. No passado eu ficava horas a fio compenetrada com uma mesma tarefa, fazia desenhos, bijuterias de miçanga… inclusive cheguei a ter aulas de artes e fiz vasos de barro com as minhas próprias mãos (eu devia ter uns 13 anos).

A questão toda é que fiquei me perguntando para onde foram tais habilidades. Quando foi que as deixei de lado? Quando foi que deixei de ser boa em coisas que para mim eram habilidade naturais? Em que momento da vida nos desconectamos da nossa criatividade?

É compreensível que a vida nos ocupe a tal ponto de precisarmos focar em outras coisas: trabalho, estudo, ganhar dinheiro, sobreviver… mas com o passar do tempo vem o cansaço, a exaustão, mesmo a facilidade dos smartphones e Internet que nos torna mais preguiçosos e atrofiados, tudo isso preenche nossa cabeça a tal ponto que simplesmente esquecemos aquilo que gostamos, que somos bons.

Não é à toa que em algum momento da vida bate aquele vazio existencial, estresse, etc, claro! A gente se anula para caber no mundo e sobreviver, gastamos nossa energia e inteligência com coisas que, em uma profunda análise, talvez não interessem tanto assim. E os rastros dos nossos dons, daquilo que realmente gostaríamos de fazer, se desbotam, se perdem…

Fiz um propósito comigo mesma. Eu já havia optado por fazer um ano de voluntariado justamente para encontrar novos pontos de vista e aprender coisas inimagináveis. Mas decidi também que vou resgatar meus dons. Vai levar um tempo, é como uma fisioterapia : aquilo que ficou atrofiado requer tempo para se desenvolver outra vez… mas, bem, o tempo passa de qualquer jeito. 

Hoje não trago fotos (poderia ter registrado os meus recortes não muito bonitos mas na hora não pensei nisso), apenas esse simples pensamento. Uma simples tesoura me deixou bem reflexiva. Hehehe

(Vai ver filosofar é uma habilidade a ser desenvolvida também…)


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