Aceitando o imperfeito, malfeito e não tão belo

 Querido leitor, devo esclarecer que o título deste post não é um conselho para você dar uma nova chance ao seu crush. Trata-se uma reflexão feita por mim quando, dias atrás, me arrisquei a fazer uma pintura cujo resultado eu já sabia que não seria grande coisa.

Contextualizando: às sextas feiras eu acompanho um dos residentes a uma escola de artesanato. Aliás, essa é uma das coisas que estou amando neste intercâmbio, a oportunidade de frequentar espaços que normalmente eu não iria e, desse modo, poder resgatar em mim alguma nova habilidade.

A escola se chama KCAT e fica em Callan, uma cidade próxima daqui. Trata-se de um escola focada em pessoas com necessidades especiais, fornecendo a elas um espaço para expressarem suas emoções, talentos e aprenderem novas habilidades manuais. A maioria ali faz pintura, mas existem outras artes desenvolvidas por eles.

(A escola é toda decorada com as obras dos próprios alunos)

(Quando se trata de arte, as possibilidades são infinitas)

Sendo voluntária, também posso fazer minhas artes, se quiser, enquanto acompanho os residentes. E foi o que decidi fazer em minha primeira ida ao KCAT, apesar de não dominar nenhum tipo de técnica (fiz aulas de desenhos anos atrás quando tinha apenas 13 anos, por evidência lógica não vou conseguir lembrar de nada).

Bem, fato é que normalmente eu não toparia fazer arte nenhuma justamente por saber que não faria nada de bonito ou extraordinário. Por muitos anos eu lidei com uma questão interna: auto exigência, muitas vezes extrema, que me jogava para baixo e minava minha própria autoestima. Achava simplesmente que se não sou boa em uma coisa o melhor é não fazer, assim evito qualquer constrangimento. (Claro que dependendo do contexto isso faz total sentido. Mas há o lado de que também se trata de um posicionamento meio vaidoso. Afinal, por que necessariamente deve-se ser bom em tudo?)

Considerando que minha decisão de tornar-me voluntária no Camphill também consistiu em um desafio pessoal de autoconhecimento, achei que aquela poderia ser uma lição muito simples para mim mesma: fazer a bendita pintura, mesmo não sabendo nada sobre isso e aceitar o resultado. E não perderia a noite de sono só porque não ficou grande coisa.

Então, fazendo uso dos meus dotes artísticos correspondentes ao de um peixe tentando andar, lá fui eu fazer uma belíssimo céu estrelado:

(Espaço de pintura)

(Não é possível enxergar na foto, mas bem atrás de mim estava Van Gogh dando umas risadinhas) 

(Resultado final. Vocês jamais verão um céu estrelado tão autêntico)


Durante todo o tempo em que eu pintava esta honorável obra, fiquei pensando de onde eu tirei (ou nós tiramos) a ideia de que uma coisa só merece as devidas honrarias se ela for… extraordinária? Genial? 100% exclusiva? 

Receio que tenha a ver com a mensagem inconsciente coletadas por redes sociais, de uma coisa só merece existir se for a mais bela, a mais autêntica, a melhor… e todos se exibem como grandes campões. Ora, eu já fui uma destas pessoas e ainda cuido para não me deixar ser.

Quem define de fato o tamanho de uma conquista? Quem mensura essas coisas? E quem dá a palavra final? Eu não sei. Se um grande artista profissional mensurasse minha humilde pintura, certamente eu teria fracassado.
 
Mas se eu mensuro da minha própria perspectiva, de alguém que não ligou para a própria auto exigência, de alguém que quer superar o próprio auto menosprezo, bem… então terei sido vencedora.

E no final das contas, é só uma pintura. Então… por que não só relaxar e curtir o processo criativo?



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