Sobre relacionamentos, amor, liberdade, solitude

In our lives
We have walked
Some strange and lonely treks
Slightly worn
But dignified
And not too old for sex
We're still striving for the sky
No taste for humble pie
Thanks for all your generous love
And thanks for all the fun
Neither you nor I'm to blame
When all is said and done
(ABBA, "When all is said and done")


Quando se abraça uma jornada pessoal que leva a questionar o propósito da própria vida, as próprias feridas, as próprias limitações, muitas vezes se chega a uma conclusão que para a maioria não faz o menor sentido: estar a sós por um período de tempo, ainda que isto custe o fim de um relacionamento.

Falar sobre relacionamentos sempre será muito complexo. As pessoas se unem ou se separam pelas razões mais peculiares possíveis, algumas nobres e outras nem tanto. Seja como for, a única conclusão que pude chegar até agora é que a forma como nos relacionamos com os outros é o resultado de nosso mundo interno e suas demandas.

Cada um oferece si o que aprendeu sobre o amor - ou, mesmo, o que aprendeu pela ausência dele. Muitos oferecerão apego, dependência emocional, violência, agressão, traição. Mas e quando se oferece amor genuíno e ainda assim meu mundo interno demanda a solidão?

São escolhas desafiadoras. É difícil sair de um relacionamento fracassado mesmo quando este já deu todos os indicativos de que não é terreno fértil para uma grande alegria. Mas ainda é mais difícil sair de um relacionamento feliz, saudável, construído com um grande companheiro, sem nenhuma razão aparente. Às vezes, sem nenhuma explicação, aquele mesmo mundo interno demanda um período solitário e mais nada.

Bom, eu passei por isso. Analisando com sinceridade entre mim e eu mesma, apenas soube que precisaria estar a sós por um tempo. Ser confrontada com essa verdade me fez querer sair correndo inúmeras vezes, mas é impossível fugir de si mesmo. Não é possível enganar ou negociar a própria verdade em si mesma. Isso me levou a tomar uma decisão difícil e dolorosa, decisão esta cuja responsabilidade era apenas minha e de mais ninguém. Assumo a totalidade das minhas escolhas. Menciono com sinceridade pois faz parte da jornada que vivo hoje.

Mas os que estão de fora nos observando, julgando, sempre esperarão uma explicação coerente, um motivo palpável. Esperam que haja um vilão, um ingrato, alguém que tenha agido com malícia e insensatez. Porém, nem para todas as coisas existe um culpado, elas apenas precisam ser.

E se apenas naturalizarmos a conclusão dos ciclos? E se compreendermos que estar em um relacionamento não é o anseio principal de todos a todo momento da vida? E se apenas aceitarmos que há relações e pessoas que vem em nossa vida para cumprir com um propósito específico - e esse propósito se cumpre

Que tal se tivermos fé nos recomeços e nos reencontros? Por que tudo deve parecer um final dramático, como se tragédia fosse?

Isso tudo me faz refletir que a maioria das pessoas se relacionam por quaisquer  outras razões, exceto pelo amor em si mesmo.

Pois a maior prova de amor que se pode dar a qualquer indivíduo é a liberdade. E aqui falo em liberdade enquanto virtude - não confundam com “libertinagem”, isto é, fazer o que bem entender e se entregar a qualquer prazer.

Liberdade é deixar que o outro viva o seu próprio caminho e possa fazer suas escolhas mais genuínas. É ausentar-se das falsas faces do amor - apego, paixão, ódio, rancor - e romper com tudo o que nos aprisiona. A dádiva de ser livre das expectativas do mundo, da própria mente, é um desejo que só quem ama pode compreender.

E eis aqui o que aprendi: só posso desejar a liberdade do outro se eu também souber o que é ser livre.

Se vocês me perguntarem se acredito em destino - sim, acredito. Mas não no destino aleatório, como se nossas vidas fossem dados jogados por aí.

Desconheço o mistério que forma o destino de cada um, mas há algo em acredito: que é o destino de cada ser humano a alegria de poder amar livremente.


Comentários

  1. Que reflexão maravilhosa, Nath! Se relacionar é uma responsabilidade grande mesmo. Mas, nenhum caminho se cruza a toa, de fato, destino existe, seja ele com outra pessa em um relacionamento amoroso ou com amizades lindas para viajar hahaha. Amando ler seus posts.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Bora trocar uma ideia:

Postagens mais visitadas